História

Seguramente, ao longo da História, várias terão sido as pessoas que, em grupo ou sós, desfrutaram do prazer de uma caminhada pelo campo, para simples deleite dos sentidos. É bem possível que na Antiguidade, no Ocidente ou no Oriente, este hábito tivesse feito parte de algumas culturas. Mas só na Inglaterra do séc. XVIII encontramos registo dos passeios a pé recreativos como prática sedimentada culturalmente. A caminhada bucólica foi um ritual particularmente apreciado pelas elites no período vitoriano, e ainda hoje está entre os programas de fim de semana convencionais da família inglesa. Em França também é largamente apreciado desde, pelo menos, o século XIX, assim com na Alemanha, Áustria, Polónia e arco escandinavo. Neste período, em Espanha e Portugal, já havia quem cultivasse o prazer de caminhar, mas o hábito era por cá circunscrito a um círculo mais restrito, sob influência da cultura centro europeia. O poeta Cesário Verde e os seus passeios pelos vales a norte de Monsanto dá disto um exemplo carismático.

Terminologia

O pedestrianismo é a mais básica das actividades de ar livre e, estando conotado com o montanhismo, pode igualmente desenvolver-se nas terras baixas dos vales e zonas costeiras. Existe uma cisão dentro desta actividade, estipulada pela duração da marcha e eventualidade de pernoita(s) intermédia(s). Assim se distingue uma simples caminhada, de um dia, de uma travessia de vários dias, internacionalmente designada por trekking. A terminologia estrangeira é frequentemente usada na actividade. Em Portugal era comum nos anos oitenta o uso do termo francês randonné, que tanto pode designar a caminhada como a travessia, mas que é mais frequentemente aplicado à caminhada - sendo uma travessia designada por grand randonné. Os espanhóis fazem derivar de sendero (trilho) o termo senderismo, que à semelhança do randonné define por norma a marcha diária. Franceses e espanhóis acabam por recorrer ao termo inglês trek para referir uma marcha de vários dias, com dormidas intercalares. Como sempre, os termos anglo-saxónicos são os mais generalizados, mas enquanto o trekking se tornou universal, os próprios anglófonos não se entendem sobre a marcha diária: os inglês falam em walk, e os americanos chamam-lhe hike. Também os portugueses aderiram aos termos trek e trekking, embora possuam o termo "travessia". Na verdade, travessia é mais estritamente montanhista, e remete para o atravessamento de cordilheiras através de sistemas de vales. O trekking acaba por ser isto mesmo, mas não sempre, e não forçosamente. Outra particularidade do trekking é o tipo de dormida. Pressupõe-se que as dormidas numa série de marchas consistam em bivaques, ou modestos alojamentos de ocasião: uma choça de pastor nos seus pastos de Verão nas terras altas, um palheiro na aldeia gentilmente oferecido, eventualmente uma estalagem rústica num povoado maior... As marchas de vários dias com dormidas planeadas em acomodações urbanas - como as que vendem algumas agências de turismo alternativo - devem em rigor tomar-se como uma série de caminhadas, e não como verdadeiro trekking. A travessia implica portando um grau de autonomia, o que se traduz materialmente na carga de uma mochila. O recurso a carregadores é pouco habitual nesta actividade (embora uma mula providencial possa aliviar as costas durante uma etapa em marchas de muitos dias!). O transporte da carga não desvirtua o trek da mesma forma que uma pernoita sofisticada. Aliás, pode tornar a actividade acessível a pessoas de idade, ou com problemas físicos.

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